Gosto muito do jeitão caipira e pragmático do Sardenberg (no menu ao lado tem link para o site dele). Ele é dessas pessoas que falam e escrevem com clareza, assuntos que poderiam se mostrar complexos. Abaixo, um comentário dele sobre o Mal do Protecionismo, do início do ano, porém um tema nunca ultrapassado e que por isso não deve ser esquecido para ser sempre combatido.
O mal do protecionismo
O protecionismo é um caso clássico em que a política, pelo menos a de curto prazo, colide com a economia.
No varejo, no caso a caso, proteger uma indústria ou todo um setor parece fazer sentido. Se uma fábrica brasileira vai fechar porque não consegue competir com brinquedos vindos da China, então teremos empregos perdidos aqui e preservados lá na China. Logo, aplica-se um imposto proibitivo sobre o produto chinês e salvam-se os empregos brasileiros.
Do mesmo modo, como fizeram os deputados americanos, se o governo vai gastar dinheiro do contribuinte americano para fazer estradas e pontes, por que deveria comprar aço estrangeiro e assim estimular o emprego lá fora? Comprando só aço americano garante os empregos nacionais.
O efeito imediato da proteção é visível.
Os outros efeitos, não.
Para o consumidor local, o efeito é péssimo. Vai pagar mais caro e se torna consumidor cativo do fabricante nacional, pois a proteção elimina a concorrência maior, que é a internacional. E sem competição, a busca pela qualidade cai. Portanto, a proteção transfere renda do consumidor para o produtor e reduz a competitividade daquele setor.
Mas o problema maior – e que demora a aparecer – está no comércio internacional. Quando todos os países se guiam pela proteção, e uns retaliam outros (por exemplo, o Brasil restringe a importação de carne argentina para retaliar os argentinos, que impediram a importação de geladeiras brasileiras) o resultado geral é uma redução no volume do comércio mundial.
Menos comércio dá em menos desenvolvimento e em menos empregos. Assim, os americanos salvam os empregos do pessoal do aço, mas perdem os empregos dos que trabalham em fábricas e serviços que fornecem para o exterior. Os americanos não vão comprar nosso aço? Ok, não compramos os filmes deles.
O mundo já passou por períodos de protecionismo. Em todos houve perda de crescimento. Mas evitar isso depende de ação coordenada de países. Se não, cada um segue sua lógica particular e o resultado é um desastre geral.